quarta-feira, 4 de março de 2009

Meu santo e bom Deus

Reis ofegante ria olhando a moça andar sorrindo largamente ao redor da cama, acendia um cigarro que passou a segurar com os dedos enquanto rodeava a cama. Um sorriso safado – ao menos naquele momento Reis achou que era safado considerando o que eles acabaram de fazer; ele não fazia idéia do que ocorria naquela mente deturpada – apareceu em seus lábios enquanto ele ofegava e esperava.

– Você gostou? – ela perguntou. Reis resmungou uma mistura de exclamação religiosa e palavrão enquanto ria. – Nunca fez nada assim? – ele exclamou algo ininteligível e sem palavras enquanto assentia exageradamente. Ela riu enquanto se sentava no canto da cama para por as roupas enquanto fumava o cigarro. Ele parou de sorrir depois de um tempo quando ela não disse nada e nem lhe deu nem menção de ajudar. Ele limpou a garganta. – Sim querido – disse ela voltando a sua atenção para ele por apenas um momento. – Ah, eu sinto muito, mas tenho que ir... – ela disse pondo as botas. Reis franziu a testa pasmo. Nunca vira ninguém se vestir tão rápido assim. – Mas foi ótimo, talvez façamos de novo qualquer dia desses.

– Mas eu... – começou Reis, mas a mulher o ignorou totalmente, foi até ele e deu-lhe um beijo na testa. Pegou uma pequena cesta e saiu correndo do quarto fechando a porta. – Hei! E eu?! Esqueceu de mim! – ele gritou, mas ela nunca voltou; na verdade ele jamais a viu de novo. – Meu Deus do céu... – ele murmurou pasmo e sem reação olhando ao redor. Suas mãos amarradas ás cabeceiras da cama e os tornozelos aos pés da cama com fitas firmes e fortes de seda, meio olho coberto com uma venda negra que ele conseguira tirar enquanto ela se levantava da cama e prendedores de cabelo nos mamilos. – Meu Deus do céu! – ele exclamou quando percebeu o quanto estava fudido. – Meu santo e bom Deus! – ele quase gritou irritado. – Fetiches nunca mais! – ele gritou se debatendo e pulando na cama como que tentando se soltar. – Nenhuma mulher vale isso! – ele deu um último pulo e caiu na cama novamente emburrado. – A transa nem foi tão boa... – ele resmungou entre dentes.

Olhou ao redor de novo. Era seda, mas quem sabe ele pudesse... Ele se esticou totalmente alcançando as amarras com os dentes. Depois de cinco angustiantes minutos ele conseguiu soltar a mão direita e em outros três estava solto esfregando os pulsos e resmungando palavrões.

– Graças a Deus ela não era nenhuma escoteira – ele resmungou flexionando os pulsos. – Agora o quê? – ele disse para si olhando ao redor. Cadê...? o queixo caiu e outro palavrão lhe escapou quando ele percebeu. O cesto que ela levara para fora, era a roupa suja que se deveria deixar no corredor ás terças à perto da meia noite. As roupas dele... – MERDA! – ele disse correndo até a porta e abrindo-a apenas o suficiente para espiar. O cesto já fora recolhido. – MERDA! – ele disse novamente.

Corria. Tentava pensar que era meia noite, que não haveria ninguém ali, que nada poderia dar errado afinal não poderia ficar pior do que isso, não é? Ele procurara toalhas, mas – o cesto de roupa suja, o maldito cesto que levava também as toalhas usadas – não achara nada além de toalhas de rosto. Pegara duas, uma na frente e outra atrás, e correra pelos corredores antes que perdesse a coragem. Mas ele estava quase chegando, estava quase lá! Um sorriso largo se abriu. Não conheça bem o lugar ainda, mas sabia que estava chegando. Chegou a uma bifurcação e olhou para um dos corredores e depois para o outro enquanto o sorriso simplesmente desapareceu no seu rosto. Simplesmente morrendo. Olhou novamente para um e para outro, e para um e para outro...

– Mas que mer... – ele gritou, mas parou. Um suspiro de surpresa. Ele não parou no meio da frase, ele congelou totalmente. Ele se virou lentamente para trás com os olhos arregalados e o rosto tão pálido quanto já estivera até aquele ponto da sua vida. Uma senhora olhava-o com a mão assustadamente sobre o peito, um senhor grisalho olhava-o com o canto do lábio levantado numa careta de repulsa e estranheza, quem sabe medo. Num segundo Reis estava pálido e no outro estava corado, uma transformação de questão de meio segundo. Os dois velhos o olhavam assustados. Ele engoliu em seco tentando imaginar o que fazer agora.

– Quarto 150? – ele perguntou com a voz falhada e acovardada.

O velhinho levantou um dedo nodoso para o corredor da direita ainda com a cara de nojo. Reis sentia o rosto tão cheio de sangue que sentia que ele poderia explodir a qualquer momento. – Eu sinto... – disse Reis recuando de costas para o corredor da direita, mas deu uma topada numa mesinha e quase caiu, se virou por um momento a tempo de pegar um vaso que estava a meio caminho de cair no chão e se espatifar em milhões de pedaços. Usou para isso a mão direita, a que segurava a toalha de trás. Ele pôs com cuidado o vaso sobre a mesa sem perceber que a toalha que protegia a “retaguarda” estava caída no chão – envergonhado demais para notar – e depois se virou para os velhos. O lábio levantado do velho virou uma total careta de nojo e a velhinha olhava de boca aberta para ele.

– Eu... – disse Reis recuando mais um passo. Ora, cale essa porra dessa boca e fuja seu idiota de merda! Disse sua mente para ele. E ele a ouviu. Virou-se de costas e correu. Deixe-me enfatizar o virar de costas.

A velhinha deu um suspiro de surpresa quando viu a lua cheia de Reis.

– Meu santo e bom Deus... – murmurou o velhinho vendo Reis se afastar correndo, meio que tirou os óculos para ver melhor e segurou uma risada.

– Sabe, na nossa época se depilar daquele jeito não era coisa de um moço de bem – disse a velhinha apontando para Reis que se afastava. O velhinho olhou-a com estranheza.

– E andar por aí numa toalha de rosto era? – ele cacarejou para ela.

Reis finalmente chegou. Bateu na porta. Demorou. Ele bateu de novo. Finalmente Mário apareceu na porta com os olhos espremidos olhando Reis de cima a baixo com as sobrancelhas franzidas – o seu ato máximo de surpresa.

– Meu santo e bom Deus! – disse ele espremendo os olhos e olhando de novo como que para ter certeza. – Mas que merda...?

– Não faça perguntas e não ouvirá mentiras – resmungou Reis. – Me deixe entrar. – Reis forçou-se para dentro.

esse é outro fragmento da mesma história da qual eu tirei “a competiçao de piscar” e eu o postei para mostrar q nao é apenas romaçe furreco q eu escrevo… também escrevo comédia furreca. se alguem chegar a rir poste um comentário.

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