sábado, 22 de agosto de 2009

Sobre a Chuva

Na minha cidade as pessoas têm medo da chuva. Nunca perdi a casa numa enchente então talvez não seja o melhor juiz, mas eu não tenho medo da chuva. Eu a amo.

Ela é uma amante caprichosa. É ocasional e fortuita – ouço homens que viveram mais do que eu dizendo que isso é o melhor tipo de amor.ela é um amor doce, que jamais poderei beijar. Não tem rosto, nem cor. Mas tem uma voz calma e rimborilante das gotas nos telhados e tem o perfume doce e suave de terra molhada, ela não tem um beijo, mas tem suas carícias leves e refrescantes no meu rosto, seu abraço gentil e in constante nos meus braços enquanto seguro o papel. E o vento que vem lento e úmido pela porta aberta da varanda levantando a leve cortina branca.

Oh, como é doce a gelada chuva de verão.

As cores do mundo ficam amenas. O verde vivo dos morros cobertos por árvores se torna um cinza claro e pálido. E lentamente minha amante torna o mundo colorido um borrão claro e suave de luz pálida riscado pelas gotas incertas e ao mesmo tempo constantes que caem pesadas beijando os telhados e emoldurando-os em uma leve nevoa esbranquiçada. Envolvendo-os levemente.

E vem entrando outra brisa que me devolve o doce perfume. Um abraço fresco e envolvente, carinhoso e leve e o adocicado perfume da minha mais carinhosa amante: a Chuva de Verão.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

A idéia de que o diabo não existe faz sentido. Alguma coisa existe, mas não é o diabo. Somos nós.

Cada mandamento, cada ensinamento da bíblia tem um único propósito que é pôr outras pessoas num ponto mais importante do que o seu próprio lugar na sociedade. Tentar satisfazer e ser “bom” com outras pessoas. Isso funciona maravilhosamente para uma sociedade muito social – como os hebreus – ou uma civilização grande – como os romanos –, pois por os interesses de uma outra pessoa na frente dos seus é o mesmo que por os interesses da sociedade em si acima dos seus próprios. Por exemplo, se você não “invejar a mulher do próximo”, não irá seduzi-la e então não quebrará o conjunto familiar do outro. Se não roubar, não matar obviam não causará danos a sociedade.

Tendo estabelecido que o objetivo de Deus é criar uma sociedade saudável e utópica fazendo com que cada um de nós pense mais no próximo é presumível que Ele definiria aquilo como “bom” – mas eu acho que para essa linha de pensamento os termos bom e mal são inúteis –, mas nós, não como homens, mas como animais temos um instinto de sobrevivência gigante.

O impulso mais forte de qualquer ser humano em qualquer situação é sobreviver e isso está acima de tudo. Então é de se supor que hora ou outra o homem seguirá esse instinto e porá a si mesmo acima de outra pessoa para a própria sobrevivência. Aí nasce algo além da sociedade. Nesse ponto a sociedade não importa mais, pois você está acima de outras pessoas na linha de sobrevivência. (Decidir se esse instinto de sobrevivência está dentro dos padrões atuais de “bom” está além de mim.)

Esse instinto é considerado aceitável para algumas pessoas, e quando esse instinto é modificado para os padrões atuais de “sobrevivência” – ter uma vida confortável, uma esposa bonita um futuro estável é o que muitas pessoas consideram sobreviver já que continuar vivo não é um desafio tão grande quanto na era da pedra e então a idéia de sobreviver evolui – é aceitável pô-lo acima da sociedade.

Nasce o Ego. O Ego é uma evolução do instinto como nós somos evoluções de Adão e Eva ou dos Neandertais – credos à parte – e uma boa vida é uma evolução de “sobreviver”. O Ego é a essência do que se considera mal por definição. Se considerar mais importante que outros membros da sociedade.

Mas o homem por algum motivo criou um personagem externo para o Ego isolando assim o Ego do próprio homem. Um personagem externo que não representa o Ego, mas sim é o próprio Ego em essência. Esse personagem é o que nós consideramos o diabo. Isolar o Ego talvez tivesse ajudado a tentar eliminá-lo por completo no começo, mas assim que a noção de que o diabo e o Ego era exatamente a mesma coisa isso protegeu o Ego da percepção do homem e a capacidade de excluí-lo conscientemente se perdeu.

Mas a parte importante é que o Ego é algo vivo. Enfurnado dentro da mente inconsciente e escondido da percepção ele influencia-nos a cada decisão ele está lá está vivo. Um intruso um câncer presente dentro de cada um de nós. Algo que simplesmente sintetiza toda a idéia de mal que nós temos. E ele não apenas está dentro de nós como é uma parte de nós. O fato de não se poder achar-lo na nossas ações apenas o torna mas perigoso.

Jesus foi um homem que nasceu sem a presença do Ego ou então foi alguém que descobriu a sua existência e conseguiu, senão excluí-lo, isolá-lo completamente das decisões conscientes. Como ele conseguiu pode ou não ser importante, mas o que realmente importa é saber que o Ego está lá influenciando e controlando as minhas próprias decisões nesse exato momento.

O “mal”, como alguns os definem, não existe precisamente, mas nós somos o que chega mais perto dele.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Cidade sombria

A lua era clara e o céu negro como a fumaça que escapara do crematório naquela mesma manhã. Mas ela não estava no crematório. Estava andando pelas ruas escuras da cidade apertada e escura. Não sombria, apenas escura. Ela amava demais aquela cidade para pensar nela com um termo pejorativo como “sombria”. O pior que lhe viria à cabeça seria escura. Era uma cidade escura. Ela sorriu, era demasiado feliz – ou ingênua – para pensar em qualquer mal da cidade.

Mas, caros leitores, “escuro” há muito deixava de ser um eufemismo para ser uma puta mentira. A cidade daria calafrios na espinha de muitos homens corajosos que eu conheço. O pior não eram as ruas escuras, extremamente estreitas e apertadas e mal iluminadas, o frio constante, ou o chão irregular de ladrilhos antigos de pedra vermelha. Era o modo como todos os prédios, todas as paredes, todos os antigos postes de metal pareciam se dobrar na sua direção, te encurralando. Aquela cidade era pior do que sombria. Mas ela não havia pensado isso.

Ela sorria. Ela tinha um encontro.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

The Ivy Green, Dickens

Dickens, Ivy Green

Oh, a dainty plant is the Ivy green,

   That creepeth o'er ruins old!

Of right choice food are his meals, I ween,

   In his cell so lone and cold.

The wall must be crumbled, the stone decayed,

   To pleasure his dainty whim:

And the mouldering dust that years have made

   Is a merry meal for him.

         Creeping where no life is seen,

         A rare old plant is the Ivy green.

 

Fast he stealeth on, though he wears no wings,

   And a staunch old heart has he.

How closely he twineth, how tight he clings

   To his friend the huge Oak Tree!

And slyly he traileth along the ground,

   And his leaves he gently waves,

As he joyously hugs and crawleth round

   The rich mould of dead men's graves.

         Creeping where grim death hath been,

         A rare old plant is the Ivy green.

 

Whole ages have fled and their works decayed,

   And nations have scattered been;

But the stout old Ivy shall never fade,

   From its hale and hearty green.

The brave old plant, in its lonely days,

   Shall fatten upon the past:

For the stateliest building man can raise

   Is the Ivy's food at last.

         Creeping on where time has been,

         A rare old plant is the Ivy green.

 

E agora traduzido por este q vos fala:

 

oh, que planta saborosa é a verde Trepadeira,

   que rasteja sobre ruínas antigas!

De comida bem escolhida são suas refeições, eu penso,

   Na sua cela tão fria e solitária.

O muro deve estar em pedaços, a pedra decaída,

   Para agradar o seu sutil capricho:

E a poeira esmigalhada que os anos produziram

   É uma alegria para ela.

         Rastejando onde nenhuma vida é vista,

         Uma planta velha e rara é a verde Trepadeira.

 

Rapidamente ele foi sem ser visto, apesar de não ter asas,

   E um coração monótono e velho ela tem.

O quão proximamente ela se enrosca , quão firmemente ele se agrarra

   Ao seu amigo o grande carvalho!

E manhosamente ele trilha junto do chão,

   A as suas folhas gentilmente acenam,

Conforme ele alegremente abraça e rasteja

   Pelo rico molde das lápides de homens mortos.

         Rastejando onde a morte sombria esteve,

         Uma planta velha e rara é a verde Trepadeira.

 

Eras inteiras fugiram e seus trabalhos decaíram,

   E nações se perderam;

Mas a forte Trepadeira verde jamais irá perder

   O seu forte e saudável verde.

A brava e antiga planta, nos seus dias solitários,

   Deverá engordar do passado?

Pois o prédio mais impressionante que o homem pode erguer

   É a comida da Trepadeira verde afinal.

         Rastejando onde o tempo esteve,

         Uma planta velha e rara é a verde Trepadeira.

Sobre uma cronica

uma crônica é uma história que como qualquer outra história tem a simples e doce idéia de criar ou fazer florescer algo no leitor: emoção. uma história sobre uma paixão ardente desperta um amor adormecido, uma história de detetive desperta uma curiosidade e certa sagacidade, uma história sobre perda e solidão desperta a nossa tristeza e compaixão.

mas a crônica é algo diferente. algo muito mais… muito além disso, pois tenta despertar essas emoções através de coisas levianas e comuns. isso é algo que eu acho especial, algo que eu acho magnifico.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O riacho

A água corria pelo riacho de seixos levemente beijando as pedras escuras e redondas polidas pelos anos de água límpida e resplandecente que correram sobre ela. A água fazia um som leve, doce e borbulhante enquanto cortava suavemente as pedrinhas do riacho refletindo a luz branca do sol. Uma carpa passa correndo ágil levando seu corpo colorido rio a baixo. Logo depois o sininho na ponta da fina vara de pesca soou leve e finamente. O pescador sorriu: “almoço”.

Redigi isso do verso de uma prova de portugues q recebi de volta hoje. duvido q a professora tenha conseguido entender a minha letra apertada e escorrida, mas escreveu com caneta rosada “um grande abraco ao meu aluno poeta.

sexta-feira, 27 de março de 2009

E ele era um poeta

Os campos verdes infindos eram salpicados por pedras cinza-esverdeadas pelos anos como confeitos sobre um bolo e eram cortadas por baixos muros da mesma pedra antiga que cruzavam os campos como fios finos e escurecidos. O colorido de sofridas flores silvestres amarelas e roxo abatido davam um ar mais frio ainda aos altos pastos. As montanhas subiam altas e titânicas e o vento cantava silenciosamente e, no frio das serras altas, as araucárias erguiam-se altas e imponentes quase que tentando desafiar a montanha e de seus galhos inclinados e longos como braços finos desciam barbas de velho foscas e idosas.

E um suspiro escapa e uma nuvenzinha se forma perto da boca do poeta e ele olha e admira e se maravilha e sonha. Ele era um poeta, era isso que ele fazia.

E por isso ele sonhava.

E, numa montanha acima das nuvens cercado de grama que parecia não acabar e flores bravas que sobreviviam ao frio e araucárias que subiam retas e imunes que pareciam serem tão velhas quanto as próprias montanhas e as montanhas de pedra cinzenta como deuses olhando de seus tronos, ele sonha com coisas ainda mais fantásticas.

Pois era o que ele fazia, era sua maldição. E ele era um poeta.

sábado, 21 de março de 2009

pois é... isso aqui morreu mesmo neh?
nao sei dizer se é culpa minha, mas acho q é...

estou em sao joaquim, estou aqui num lugar lindo e venho escrever algo tao triste e fudido...

é foda a vida, mais tarde quando chegar de viagem vou escrever isso melhor.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Meu santo e bom Deus

Reis ofegante ria olhando a moça andar sorrindo largamente ao redor da cama, acendia um cigarro que passou a segurar com os dedos enquanto rodeava a cama. Um sorriso safado – ao menos naquele momento Reis achou que era safado considerando o que eles acabaram de fazer; ele não fazia idéia do que ocorria naquela mente deturpada – apareceu em seus lábios enquanto ele ofegava e esperava.

– Você gostou? – ela perguntou. Reis resmungou uma mistura de exclamação religiosa e palavrão enquanto ria. – Nunca fez nada assim? – ele exclamou algo ininteligível e sem palavras enquanto assentia exageradamente. Ela riu enquanto se sentava no canto da cama para por as roupas enquanto fumava o cigarro. Ele parou de sorrir depois de um tempo quando ela não disse nada e nem lhe deu nem menção de ajudar. Ele limpou a garganta. – Sim querido – disse ela voltando a sua atenção para ele por apenas um momento. – Ah, eu sinto muito, mas tenho que ir... – ela disse pondo as botas. Reis franziu a testa pasmo. Nunca vira ninguém se vestir tão rápido assim. – Mas foi ótimo, talvez façamos de novo qualquer dia desses.

– Mas eu... – começou Reis, mas a mulher o ignorou totalmente, foi até ele e deu-lhe um beijo na testa. Pegou uma pequena cesta e saiu correndo do quarto fechando a porta. – Hei! E eu?! Esqueceu de mim! – ele gritou, mas ela nunca voltou; na verdade ele jamais a viu de novo. – Meu Deus do céu... – ele murmurou pasmo e sem reação olhando ao redor. Suas mãos amarradas ás cabeceiras da cama e os tornozelos aos pés da cama com fitas firmes e fortes de seda, meio olho coberto com uma venda negra que ele conseguira tirar enquanto ela se levantava da cama e prendedores de cabelo nos mamilos. – Meu Deus do céu! – ele exclamou quando percebeu o quanto estava fudido. – Meu santo e bom Deus! – ele quase gritou irritado. – Fetiches nunca mais! – ele gritou se debatendo e pulando na cama como que tentando se soltar. – Nenhuma mulher vale isso! – ele deu um último pulo e caiu na cama novamente emburrado. – A transa nem foi tão boa... – ele resmungou entre dentes.

Olhou ao redor de novo. Era seda, mas quem sabe ele pudesse... Ele se esticou totalmente alcançando as amarras com os dentes. Depois de cinco angustiantes minutos ele conseguiu soltar a mão direita e em outros três estava solto esfregando os pulsos e resmungando palavrões.

– Graças a Deus ela não era nenhuma escoteira – ele resmungou flexionando os pulsos. – Agora o quê? – ele disse para si olhando ao redor. Cadê...? o queixo caiu e outro palavrão lhe escapou quando ele percebeu. O cesto que ela levara para fora, era a roupa suja que se deveria deixar no corredor ás terças à perto da meia noite. As roupas dele... – MERDA! – ele disse correndo até a porta e abrindo-a apenas o suficiente para espiar. O cesto já fora recolhido. – MERDA! – ele disse novamente.

Corria. Tentava pensar que era meia noite, que não haveria ninguém ali, que nada poderia dar errado afinal não poderia ficar pior do que isso, não é? Ele procurara toalhas, mas – o cesto de roupa suja, o maldito cesto que levava também as toalhas usadas – não achara nada além de toalhas de rosto. Pegara duas, uma na frente e outra atrás, e correra pelos corredores antes que perdesse a coragem. Mas ele estava quase chegando, estava quase lá! Um sorriso largo se abriu. Não conheça bem o lugar ainda, mas sabia que estava chegando. Chegou a uma bifurcação e olhou para um dos corredores e depois para o outro enquanto o sorriso simplesmente desapareceu no seu rosto. Simplesmente morrendo. Olhou novamente para um e para outro, e para um e para outro...

– Mas que mer... – ele gritou, mas parou. Um suspiro de surpresa. Ele não parou no meio da frase, ele congelou totalmente. Ele se virou lentamente para trás com os olhos arregalados e o rosto tão pálido quanto já estivera até aquele ponto da sua vida. Uma senhora olhava-o com a mão assustadamente sobre o peito, um senhor grisalho olhava-o com o canto do lábio levantado numa careta de repulsa e estranheza, quem sabe medo. Num segundo Reis estava pálido e no outro estava corado, uma transformação de questão de meio segundo. Os dois velhos o olhavam assustados. Ele engoliu em seco tentando imaginar o que fazer agora.

– Quarto 150? – ele perguntou com a voz falhada e acovardada.

O velhinho levantou um dedo nodoso para o corredor da direita ainda com a cara de nojo. Reis sentia o rosto tão cheio de sangue que sentia que ele poderia explodir a qualquer momento. – Eu sinto... – disse Reis recuando de costas para o corredor da direita, mas deu uma topada numa mesinha e quase caiu, se virou por um momento a tempo de pegar um vaso que estava a meio caminho de cair no chão e se espatifar em milhões de pedaços. Usou para isso a mão direita, a que segurava a toalha de trás. Ele pôs com cuidado o vaso sobre a mesa sem perceber que a toalha que protegia a “retaguarda” estava caída no chão – envergonhado demais para notar – e depois se virou para os velhos. O lábio levantado do velho virou uma total careta de nojo e a velhinha olhava de boca aberta para ele.

– Eu... – disse Reis recuando mais um passo. Ora, cale essa porra dessa boca e fuja seu idiota de merda! Disse sua mente para ele. E ele a ouviu. Virou-se de costas e correu. Deixe-me enfatizar o virar de costas.

A velhinha deu um suspiro de surpresa quando viu a lua cheia de Reis.

– Meu santo e bom Deus... – murmurou o velhinho vendo Reis se afastar correndo, meio que tirou os óculos para ver melhor e segurou uma risada.

– Sabe, na nossa época se depilar daquele jeito não era coisa de um moço de bem – disse a velhinha apontando para Reis que se afastava. O velhinho olhou-a com estranheza.

– E andar por aí numa toalha de rosto era? – ele cacarejou para ela.

Reis finalmente chegou. Bateu na porta. Demorou. Ele bateu de novo. Finalmente Mário apareceu na porta com os olhos espremidos olhando Reis de cima a baixo com as sobrancelhas franzidas – o seu ato máximo de surpresa.

– Meu santo e bom Deus! – disse ele espremendo os olhos e olhando de novo como que para ter certeza. – Mas que merda...?

– Não faça perguntas e não ouvirá mentiras – resmungou Reis. – Me deixe entrar. – Reis forçou-se para dentro.

esse é outro fragmento da mesma história da qual eu tirei “a competiçao de piscar” e eu o postei para mostrar q nao é apenas romaçe furreco q eu escrevo… também escrevo comédia furreca. se alguem chegar a rir poste um comentário.

terça-feira, 3 de março de 2009

A competição de piscar

Eles se olhavam. Os olhos esmeralda dela encarando-o num momento raro e preciso de desafio. Olhos que brilhavam vendo-o com amor e imperninencia corajosa. Simplesmente olhando-o. Encarando-o. Seus olhos nos dela, os dela nos seus e o cheiro leve e delicado das tulipas que ele acabara de comprar-la. Ele viu o sorriso dela. Um sorriso tão lindo, como o sol passado por entre as nuvens brancas que eram sua bochechas. O vermelho daqueles lábios, que ele sabia que eram macios, que ele sabia que eram doces. O vermelho-sangue mais vivo da terra. E os olhos! Aquele maravilhoso par de esmeraldas. Como se Deus apontasse para a terra e dissesse, “para aqueles que não acreditam no céu, eis prova do contrário.”. Os olhos esmeralda que não saiam de seus olhos. Os olhos que o miravam de forma marota. Ela de repente riu e deu-lhe um tapa no ombro. Ele piscou assustado percebendo o que fizera.

– Você piscou de novo! – ela exaclamou rindo. Suas mãos brancas desenhando no ar como se fosse uma dança. – Nunca consegue me vencer nessas coisas! – ele deu de ombros envergonhado.

– Eu me distraí.

Júlia olhou-o curiosa. Seus lábios vermelhos se curvando de forma cômica enquanto ela deitava doce e femininamente a cabeça de lado. Ele segurou um suspiro apaixonado que lutava para escapar-lhe. – Com que? – ela perguntou com uma voz contida.

Ele suspirou tentando pensar em como escapar dessa. Então um pensamento lhe ocorreu: casete, escapar do que? E escapar por quê?

– Com uma garota linda – ele disse tentando não parecer tão envergonhado como estava.

Ela abriu a boca surpresamente por um momento e depois mordeu o lábio inferior sorrindo e se encolhendo envergonhadamente. Ali sob as sombras irregulares das folhas que deixavam raios de sol morno escapar para aquecer os rostos deles ele se empurrou para frente, para perto dela. Ele adorava aquilo. Aquela mordidinha, os dentes apertando delicada, docemente aqueles lábios macios, doces, vermelhos. Ele se aproximou mais, os olhos verdes dela agora refletiam o rosado na toalha de piquenique olhando para baixo para longe dele, mas ele pôde ver-los indo de uma parte a outra da toalha nervosamente. Ele sentia o coração bater na sua garganta e seu estomago sumira dentro de um nó, suas mãos suavam, mas ele não percebeu isso. Apenas via a ela, apenas sentia a ela. Sentia a sua respiração na sua pele, ouvia-a respirar e, por alguns breves momentos pôde jurar que ouviu o coração dela bater com mais clareza do que poderia esperar ouvir o seu proprio. O mundo sumiu, não via nada além daquelas madeixas iluminadas de amarelo pela luz que escapava por entre os galhos como se a propria luz quisesse, desejasse com todo o coração, chegar até ela. Como se ela fosse a única coisa naquele parque que valesse a pena iluminar. E ela reluzia. Ele não percebeu que estava chegando perto até que os olhos dela se voltassem para os dele. Aquelas esmeraldas brilharam vendo-o chegar mais perto, ele a sentiu perder o fôlego – ele não tinha mais fôlego há muito tempo – e dar uma breve suspirada antes de...

Ah... Os lábios dela nos seus. – Sim, Deus; eu vi as suas provas e agora acredito no paraíso.

Deus estava lá. Em algum lugar Ele olhava vendo o inicio oficial de um novo amor. Ele quase pode sentir-Lo nos lábios dela. Tão macios quanto ele sempre sonhou; tão doces quanto tudo que ele jamais esperaria provar na sua vida como confeiteiro. O beijo. O primeiro beijo.

Ele não sabia, mas eu como narrador onisciente sei que aquele beijo durou quase cindo minutos. Quando seus lábios foram puxados dos dela – arrancados à força – ele ficou com os olhos fechados por mais uns instantes antes de olhar para ela. Ela lhe sorria. Um sorriso. Um sorriso e Reis pôde acreditar que nada de ruim no mundo poderia acontecer.

– Então… – ela gesticulou desviando o olhar, tão corada quanto ela poderia ficar. – Quem era a garota linda que te fez piscar?

Ele simplesmente a olhou com um sorriso fino esboçado nos lábios. Era tudo o que ela precisava. Um olhar, e ela poderia ter certeza absoluta. Simples assim, ela o lia tao claramente quanto um livro.

– Bem... – ele começou desviando o olhar e decidindo quebrar o gelo. – Eu tinha uma ex-namorada... – ele mentiu. Ela riu e bateu nele com um livro que estava ao alcance da sua mão, ele não reagiu apenas riu.

esse é um pedaço de uma coisa na qual eu estou trabalhando. acho q quando eu terminar vai ser um romaçe dividido em duas partes. é um flashback de uma memória, um fragmento. Não faço a minima ideia de por q diabos eu o pus aqui, mas aqui está.